terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tudo o que é dado não sabe a nada!

A forma como os pais se relacionam com os filhos ronda, por vezes, o patético. - O meu filho, dizem tem de ter tudo o que os outros têm, leia-se, o que eles nunca tiveram.
Os pais dão o que podem e o que não podem, o que devem e o que não deviam. Compram todo o tipo de roupa de marca e, depois dizem que os filhos usam sempre a mesma camisola. No armário existe uma grande variedade de sapatos e de botas, mas eles calçam sempre os mesmos ténis; têm despertador electrónico, todavia chegam tarde à escola; dinheiro com fartura para o almoço, porque a comida na cantina da escola não presta. - Ó João, estás sempre agarrado ao telemóvel, mas esquecem que já é o terceiro telemóvel que lhe compram.
- Ai Cristina, os teus colegas hão-de dizer que a tua mãe é uma desmazelada! Já viste como vais tão mal vestida para a escola?
Pois é, querem um gato ou um cão em casa, mas não tratam deles; não aspiram o seu quarto nem ajudam na cozinha. - Não faz mal, eu trato disso, diz a mãe de pronto. Vão buscar os filhos às discotecas ou aos bares e, quando não vão, dão "mais algum" para que venham de táxi.
- Ó Nuninho, diz a mãe, prefiro ir buscar-te à discoteca do que arriscar a que apanhes boleia daqueles teus colegas que passam a noite a beber cerveja. Já sabes, que eu não durmo enquanto tu não chegares e, sabes que depois, o teu pai ralha é comigo!
Fora de casa as coisas passam-se de uma forma semelhante. Como é muito aborrecido andar de "Bertinha", compra-se uma mota ou um carrinho ao rapaz; se a Isabel não consegue tirar boas notas na escola, passa a ter explicações. Assim pode dormir nas aulas, uma vez que a explicadora explica muito melhor; passar férias só num sítio não é suficiente, por isso os filhos vão até ao Continente ou a Palma de Maiorca e, quando voltam vão passar uma semanita a Santa Maria ou ao Faial para descansar.
É o "nacional facilitismo" a funcionar. Tudo para agradar aos filhos, mesmo que eles não cumpram com nada do que deviam. E os filhos habituados a andar ao colo dos pais, não sabem dar qualquer passo sozinhos.
Se isto é verdade, também não é menos verdade, que tudo é feito por uma simples razão: o amor "cego" pelos filhos.

Jornal Açores 9 - Setembro 2010
http://www.jornalacores9.com/

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Liberdade de Escolha


"Realmente, se um dia de facto se descobrisse uma fórmula para todos os nossos desejos e caprichos - isto é, uma explicação do que é que eles dependem, por que leis se regem, como se desenvolvem, a que é que eles ambicionam num caso e noutro e por aí fora, isto é uma fórmula matemática exacta - então, muito provavelmente, o homem deixaria imediatamente de sentir desejo. Pois quem aceitaria escolher por regras? Além disso, o ser humano seria imediatamente transformado numa peça de um orgão ou algo do género; o que é um homem sem desejos, sem liberdade de desejo e de escolha, senão uma peça num orgão?"

Fiodor Dostoievski, in "Cadernos do Subterrâneo"


Quem tem medo de dizer Não? É apenas uma palavra. Ser live é também saber dizer NÃO.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

MacGyver



O sucesso foi tão grande que surgiu a expressão: "Dar uma de MacGyver", o equivalente a desenrascanço. Esse jeito de resolver as coisas no último minuto como o MacGyver sabia fazer com a sua fita adesiva, cavinete suíço e engenhocas inspiradas em conhecimento científico em qualquer situação em que se encontre, até mesmo num quarto com aquilo que encontra à sua volta.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Ainda que eu caminhe pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam


Salmo 23

1. O SENHOR é meu pastor: nada me falta.
2. Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes.
3. Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do seu nome.
4. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
5. Preparas a mesa para mim à vista dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; a minha taça transbordou.
6. Na verdade, a tua bondade e o teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.

Ulisses e o canto das sereias


De todos os perigos que Ulisses enfrentou na viagem de volta para casa, nada se compara ao misterioso canto das sereias.
As sereias ecoavam o seu canto, crescendo de um simples murmúrio à distância até encher o ar com a doçura venenosa de suas vozes. Enfeitiçados, os homens tomavam o rumo daquela ilha de costas verdes como uma esmeralda, e iam despedaçar o navio nos sinistros rochedos ocultos sob a água. Os que escapavam com vida eram devorados. Ulisses foi o único mortal que continuou vivo depois de ouvi-las. Ao avistar a ilha, obrigou a tripulação a selar os ouvidos com cera de abelha e mandou que o amarrassem ao mastro, com as mãos para trás, e que apertassem os nós se ele tentasse fugir. A um sinal do imediato, cinquenta remos feriram a água ao mesmo tempo, impulsionando o navio na direção das sereias. Elas, que tinham reconhecido o herói, dirigiram a ele um apelo que suas vozes mágicas tornavam irresistível: "Chega mais perto, afamado Ulisses! Pára teu navio e vem ouvir nossa voz, que só terás a ganhar! Sabemos tudo o que aconteceu em Tróia, e tudo o que vai acontecer. Vem, aproxima-te!" - e começaram a cantar. Os marinheiros, surdos, continuavam remando, enquanto Ulisses, com o rosto transtornado pelo que elas diziam, lutava desesperadamente contra a corda que lhe apertava os pulsos. Aos poucos, porém, a ilha foi ficando para trás, e as vozes dela se perderam na distância. Sem qualquer comentário, Ulisses retomou o comando. O que ele ouviu, ninguém sabe. Ulisses jamais revelou o que, naquele dia, o levou a debater-se como um louco para se livrar das amarras - mas, ao que parece, as sereias souberam escolher as palavras certas para tocar seu coração, assim como o fariam com qualquer outro que delas se aproximasse. Na Grécia - como hoje -, essa sempre foi a triste sina dessas criaturas sedutoras, mas infelizes, condenadas à solidão de seu rochedo. Frustradas, incapazes de amar, aprenderam a usar o desejo dos outros para aprisioná-los com um canto em que tudo é só promessa, em que tudo é aparência. Muitos passarão por ali, trazidos pelas marés, mas essas pobres sereias jamais irão sair da sua ilha.